domingo, 27 de março de 2011

Riscos Seguintes

Soltei-o, logo de reação - fui ao chão, abracei as pernas e fiz meu mundo desabar. O vi correndo e dobrando a esquina, me dizendo para seguir um rumo, trilhar um caminho, desviar dessa rota que o mesmo me colocou e me guiou por um tempo e que agora - praticamente perdida - tento desabafar com as pedrinhas que jogava no caminho em tempos que me sentia sozinha.

Não voltou para enxugar as lágrimas, disse que precisava ficar sozinho e que de repente eu já não fazia parte da sua história e que de futuro, apenas bons amigos. Não estaríamos mais de mãos dadas em situações ruins, o cinema no sábado à tarde ou o filme com pipoca no sábado à noite, havia sido desmarcado - para sempre, ou instantâneamente. As lágrimas que de mim saiam ou espirravam, eram corrosivas, ácido puro. Mas aceitei toda e qualquer ideia que o mesmo fazia sobre mim ou sobre qualquer vírgula de toda nossa relação tida como: turbulenta.

Quando a noite fazia frio e meus pés congelavam sobre a coberta, eu sentia falta da calma e do calor que ele me passava, quando passava a mão pela cintura e me fazia de travesseiro, ou bichinho de pelúcia, mas que era sua favorita, pela quantidade de massa e matéria que eu trazia comigo. Desisti por momentos de planos para o futuro ou qualquer coisa que pudesse me envolver e por hora, não me imaginavea sem ele. Ligava, exigia satisfações desnecessárias, ia abaixo de chuva procurar pelo abraço aconchegante que ele dava, sem fazer esforço algum. E como de costume, o encontrava deitado de bruço, apenas com uma coberta fina por cima e a janela aberta - faça chuva, faça sol.

Beijava suas costas e o via saltar num segundo, olhando meio por baixo com ar de irônico e desnecessário de mim. Levantei, com aquela vontade doentia de me mandar dali e não voltar nunca mais, mas por tudo que era mais sagrado, morreria no dia seguinte de desgosto e arrependimento. Fiquei, troteando de um lado para o outro, e o vi vindo atrás de mim, como quem não quer nada - ou quer tudo.

Corri e abracei-o com toda a vantagem de ainda ser uma ex-namorada amada e correndo o risco de sofrer 20 segundos após. Mas nada no mundo era capaz de explicar a sensação de estar sendo salva por ele, de ter me pego do abismo e me colocado em uma pedra segura e com uma vista, invejável. Pois, Fique comigo! Aprecie a vista e vá embora só mais tarde, quando eu pegar no sono e não ter o perigo de acordar suando ou lacrimejando. Ou então não vá embora, me segura firme como travesseiro, me esquenta assim como fogo na lareira, me cobre, me beija a testa, e estenda os dedos, o braço ou o corpo inteiro quando eu for desandar, como gelatina morna, ou pudim quente.

Pois voltou e ficou, me segurou firme e beijou cada lágrima que de mim saia, me abraçara forte e falava baixinho no escuro e ao pé do ouvido, que me ama e que não pretende ir embora tão cedo. Que sou necessária e tão insegura que faço falta. E agora, meio de canto eu corro riscos profundos, de vê-lo indo e voltando, oscilando em humor e sorrindo apenas quando der na telha. Corro riscos de extrema melodramática, de ficar insegura quando coloco uma roupa um pouco mais justa ou demonstro de peito aberto todo amor, que aperta aqui dentro e desenrola aqui fora.

Fiquei na luta, defendendo as minhas bases, encarando a minha realidade de ser tão pequena por fora e tão imensa por dentro, encantadora, sentimental, frágil, cuidadosa e forte. Não há vacinas ou remédios que cessem a dor e muito menos que desencantem olhos tão sonhadores e apaixonados quanto os meus.