domingo, 27 de fevereiro de 2011

Petulante



Um cheiro de energia pura invadia o ar, praticamente minha anti-matéria em forma miniatura, existia um mini mim de mim mesma e isso era praticamente incrível, se ela não convivesse na mesma casa que eu e fosse um clone de todas as minhas atitudes, eu até poderia pensar em aguentá-la, mas para bastar não só internamente como externamente ela era meu projeto, a unica diferença é que era 14 anos mais moderna.

Além de freqüentarmos a mesma casa, os mesmos ambientes, temos de dividir os mesmos pais, como isso é irônico, ao invés de ser minha filha ela é peculiarmente minha irmã, quase insuportável, geniosa, teimosa, indelicada e muito ciumenta. Faz bagunça em todos os cantos inalcansáveis e em nossa mente ela monta e desmonta um quebra-cabeça gigantesco, que me deixa além de louca totalmente desorganizada.

Petulante, isso mesmo... PETULANTE, com todas as letras maiúsculas e se for necessário mais um ponto de exclamação no final, ela me vira de pernas pro ar, mesmo sendo tão pequenina, por hora tenho vontade de esmagá-la, por outra a mandaria para lua por durante dias sem data prevista de volta. Mimada, inteligência quase impossivel de entender, as meias palavras que ela solta me deixam praticamente radiante, a forma de carinho é parecida com a do macaco e a forma como ela anda de chinelo parece mais uma velhinha de 85 anos.

O cabelo indefinido, os olhos idênticos á bolinhas de gude, o sorriso ainda não formado exibe dentinhos pequeninos e mal-escovados, por que a tal 'geniosa' é inimiga da escova de dentes. Sempre tão cheirosa assim como a irmã, pois adora qualquer tipo de banho e sair da água é quase uma tortura, é como se quisessem tirar comida de um cachorro. Aliás, adoro compará-la à animais, eles são tão simpáticos e amigáveis quanto ela, mas somente quando a mesma está de bom humor.

Mexe aqui, mexe lá, mexe acolá e ouço gritos quase histéricos da minha mãe quando estou na esquina, no banho, no quarto ou até mesmo no colégio. Pois ela mexe, e mexe mesmo em qualquer coisa que diz ou não respeito à ela. Muito simpática ela conquista até mesmo àquelas minhas amigas que detestam criança e não dão o ar da graça a ninguém. A língua estranha que ela exibe pela casa me deixa com cara de maluca e um ar de deboche irresistível, o bom de tê-la é que eu ensino coisas ruins somente uma vez, o resto ela repete sem eu precisar mandar.

Risada que contagia, choro que espanta, travessuras que irritam, jeito que preocupa, inteligencia que orgulha, beleza que causa inveja, serenidade de criança, carinho de amiga, companheira, compreensão de mãe, amor de irmã, teimosia de mula, jeito de conquistar igual à de um galanteador, esperançosa como toda criança e amorosa, tanto quanto qualquer garota apaixonada. Radiante, assim como o Sol, ela tem luz própria, encantos só dela e é meiga como ninguém. Fofura em pessoa, o xodó da familia e ainda por cima é PETULANTE.

Além de ser egoísta ao extremo, se pudesse puxaria todos os fios de cabelo que existem em minha cabeça e soltaria uma gargalhada logo em seguida. Convencida e narcisista, olha-se no espelho tanto quanto eu me olho e ainda arruma o cabelo. É ciumenta, rouba minha mãe, minha pai e só me devolve no final do dia, quando deita na cama e capota. Ainda assim está presente em todo lugar que eu vou ou em cada sonho que eu tenho pro futuro.

Veio em boa hora, melhor seria impossivel, trouxe paz de espirito, energia pura, trouxe esperança, brilho e união. Trouxe sonhos e muita responsabilidade, trouxe gastos, noites em claro, trouxe preocupação e muitas gargalhadas para cada gafe que cometia. Trouxe nervosismo, estresse e harmonia, trouxe tranquilidade e consigo anjos que cuidam de cada canto da casa e das nossas vidas. Trouxe agitaçao e fez com que às vezes todos abrissem mão de conforto para dar à ela tudo que ela sempre mereceu, e veio... Para me mostrar que não tem idade para deixar de ser egoísta, que não existe momento certo para cuidar de alguém e dividir experiências, trouxe calma para meus dias e terror quando não estou nos meus dias e sinto vontade de jogá-la da sacada.

Juro externamente não sentir vontade de levá-la a todos os lugares que vou, mas consto aqui que isso é pura mentira, pois a tenho muito mais do que irmã, se pudesse diria à todos que ela é a filha que eu tive na adolescência e que me trouxe muito mais do que amor, me trouxe esperança e vontade de lutar por um mundo melhor.

p.s: eu te amo minha irmã.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Com carinho, aos corações exaustos.


Confiei quase cegamente em todo e qualquer sentimento que eu era capaz de sentir, via logo a frente muros e becos sem saídas e continuei seguindo por que ao meu ver eu era forte o suficiente e destruiria cada barreira que me impedisse de ir em frente. Eu não busquei outros caminhos foi exatamente isso, eu escalei os muros e no final cortei as mãos nos cacos de vidro. Me aproximei dos becos sem saídas e dei de cara com cobras e bichos alucinantes que eu era incapaz de reconhecer, me perdi.


Meu fôlego era zero em questão de corrida então fiquei parada, estática, quase projeto de múmia. Analisei e ali estava errando o cálculo matemático novamente, contemplando sentimentos fechados, intermináveis, inacabados, perigosos, eu poderia morrer, mas só isso não parecia me motivar a parar. Sempre fui a última pessoa a perder as esperanças, a ver o erro, não sei se creio cegamente em algumas teorias ou sou ingênua demais à malícia do ser humano. Sou criança, quase indefesa, mas escondo o perigo.


Sou quase encantada se não fosse pela teimosia acelerada e a irônia descontrolada. Sorriso de canto, ar de deboche, arranco a raiva das pessoas, quase matam-me pelos pensamentos, mas encaro como mulher de alma. Quase como quando uma aranha faz a teia, quase como quando a cobra libera o veneno, tenho no meu lado esquerdo o veneno mais perigoso que fui capaz de conhecer: amar demais às pessoas sem garantia de que as mesmas façam o mesmo por mim. Me machuco por dentro, cortando as minhas veias, meu pulso, queria ser capaz de cortar laços também, meu coração não perderia o fôlego e eu criaria vontade de continuar ou se quer renovar.


Não consigo, não posso me desprender de alguns cordões umbilicais, vai faltar ar, alimento, eu ainda não estou pronta para sair, eu quero ficar aqui dentro, meu mundo, seu mundo - muito contraditório e complexo - meu olhar infantil não consegue encarar, minha alma muito ligeira e sacana quase me abandona quando as lágrimas me procuram, quando estou triste até mesmo uma parte de mim me abandona, vai embora, me espera na esquina. A largada é dada, mas vou como uma tartaruga e vejo a lebre logo a mil km de distância e eu que considerava ela minha amiga. Tartaruga e lebre, logo como Coração e razão... Andavam juntos até cada um aprender a amar de maneiras diferentes, se separaram e agora não se encontram a não ser quando competem.


Competitiva, compreensiva, melosa, dengosa, admiradora secreta. Cuido por tras das camêras meu amor mais impossivel, muito possessiva, olhar meio por baixo, atravesso as leis da razão e chego logo ao coração batendo descontroladamente, pulsando sangue até mesmo para a parte mais escondida do meu corpo. Passo os olhos ligeiramente e vejo-o logo a frente,abanando, por um momento vi meu cordão umbilical sendo cortado e cai logo depois, ele corria de mim, soltou minha mão e não me esperou na esquina, o sorriso estava em cartazes enormes na rua, aquilo cortava meu coração mais do que os cacos de vidro cortaram minhas mãos, os pedaços cravados de canto a canto fez parar de pulsar. PAROU!


Ficou exausto, se tivesse língua a mesma estaria pra fora ou poderia ser engolida, mas não tem língua, não tem olhos, não se alimenta, não é capaz de criar vingança, não consegue desejar o mal, entào parou, sem forças, totalmente pálido, o vermelho que lhe transmitia além de amor, harmonia... tranformou-se em cinza, sem forças e com as pernas cansadas, quase paralítico, sem conseguir coordernar a cadeira de rodas. As veias entupiram, mas a esperança continuava em pé, segurando não só as pontas, mas guiando a cadeira, acabou com a guerra, trouxe paz e está cuidando agora do pequenino que precisa recuperar a coloração e a vontade de sentir.


O mesmo me contou em segredo que disse adeus quando não precisava, mas não quebrou por que a razão ajudou, agora em prantos ele conta que não consegue avistar a razão por motivos óbvios: de tanto sentir o coração sem querer mandou-a embora, sozinho ficou. Assim como histórias em quadrinhos ou contos da disney, minha novela é diferente, é antônima à todas as outras, chegou ao final e o sorriso não apareceu, não foi feliz e o aprendizado não resistiu àquelas borrachas totalmente poderosas - foi apagado.


Está á base de soros, alimentos em forma líquida e recuperando o fôlego, tenho a impressão de que sensações assim demoram para passar, se é que passam, tenho o pressentimento de que não terei mais forças para reconstruir o coração, ferimentos graves sempre deixam sequelas e dessa vez o corte profundo deixará uma marca inesquecível, além de exausto, da língua pra fora, dos batimentos chegando ao zero, oscilando, quase gritando e não obtendo sucesso, meu pequeno tem o dom de não sentir rancor, pode sentir angústia, quase ser sufocado pela tristeza, mas tem sempre a capacidade de brilhar e irradiar áqueles que estão na mesma situação que ele agora.


Com carinho, aos corações exaustos