domingo, 28 de novembro de 2010

Chamada Perdida

'Como é bom ouvir sua voz...

tu-tu-tu-tu...

Aquela maldita ligação havia caído na melhor parte, meus olhos brilhavam como diamantes contra o sol, meu coração estava prestes a ter um infarto e minhas mãos eram trêmulas.
Calma, foi apenas uma ligação, o sinal está fraco, a bateria terminou, terminaram os créditos e junto com eles as esperanças, maldita cabeça que só pensa coisas desnecessárias, termina com isso, ele te ama, ele se sentiu sem jeito e desligou, ele te quer, tudo estará certo sempre... Era o coração do outro lado segurando as pontas, a razão nunca me ajudava mesmo, desgraçada, poderia matar-lhe a pauladas se ela não fosse abstrata, pegaria e lhe esmagaria com toda a raiva que eu estava tendo!

Como as nuvens aparentavam estar diferente, como o céu estava sem estrela, como o vento estava forte, como a rua estava vaga, como as luzes estavam apagadas, como uma chamada poderia mudar tanto uma vida, eram tic-taques no relógio ao lado, zum-zum dos vaga-lumes nas árvores, toc-toc na porta e meus passos rápidos não fizeram barulho.

Abri, era um vulto brilhante, mas nada que me assustasse, brilhava tanto que meus olhos encheram de lágrima, que diabos ser tão sentimental, quebradiça demais, me entregar demais, ele vinha me dizer algo ou simplesmente representar alguma coisa que eu não sabia exatamente o que era, mas de qualquer forma me marcaria. Fechei a porta correndo e arrumei meu cabelo no espelho, eu estava com um pijama feio e um cabelo desarrumado, mas se aquilo fosse um anjo, veria em mim uma essencia tao boa capaz de me transformar em princesa somente com um olhar, aqueles pensamentos nao faziam sentido, eu estava vendo coisa, o que uma chamada perdida mudaria na minha vida?

Não era algo perdido, mas estava mal explicado, mal entendido, subentendido, óleo quente em travessas geladas lascam e quebram, foda-se a tigela lascada, o braço quebrado, o queimadura de 3 grau, a vida do avesso, ás vezes a gente só quer é descansar, acreditar em coisas boas e fazer delas grandes objetivos para as nossas vidas, a vida nao é feita por coisas boas, nós nao somos bons, mas isso nao importa quando o que realmente conta sao chamadas perdidas que mudam nossas vidas.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Oito ou Oitenta



Parei, liguei o chuveiro o mais quente que fosse possível e me meti embaixo. Não me importava o quanto doeria ou se a resistência iria queimar, aquele momento nostálgico ia passar, de qualquer forma eu me sentia inútil por não conseguir arrancá-lo de mim com as minhas próprias mãos, vinha uma lembrança muito nítida de quando meu professor havia me dito que eu era uma pessoa muito 'oito ou oitenta', sabe aquela maldita expressão né?

Ou voce é tudo, ou voce não é nada, ou voce gosta do quente ou voce gosta do muito frio, nada de meio termo, nada de coisas muito mornas, nem mesmo se elas tenham tendência a esquentar. Ou era sim, ou era não e eu tinha a pesada impressão de que aquele meu jeito incomodava-o muito, por que ou as coisas eram ou simplesmente não eram, nada de 'talvez', 'quem sabe', 'vamos ver'...

Ou eu sorria ou chorava muito, ou eu ia muito bem nas provas ou eu ia muito mal, ou eu aceitava certos problemas ou eu simplesmente recusava-os, isso angustiava as pessoas que conviviam comigo, minha melhor amiga adorava e ainda adora me definir como a pessoa mais imprevisível que ela conhece, acho esse cargo muito gratificante, adoro mudar de ideias e opiniões e conseguir continuar a mesma, sabee.. a mesma essência. Adoro surpreender, fazer os olhos das pessoas brilharem e com isso ganhar mais alguns elogios para guardar em um dos meus baús de memórias... Depois, reciclá-los e transformá-los em momentos nostálgicos como esse do chuveiro, em capítulos inteiros dos meus livros imaginários, em pensamentos longínquos!

Ser imprevisível me torna uma pessoa misteriosa, uma pessoa difícil de desvendar, mesmo que não seja exatamente assim, pois sou a pessoa mais fácil de lidar que eu mesma já conheci, é somente difícil saber se eu gostei do presente ou da carta, é difícil de descobrir se eu gostei do beijo ou do jeito que ele me olhou, é difícil saber se eu me entreguei totalmente ou se eu fui totalmente bem em uma prova, é difícil ver os mínimos detalhes quando eu gosto mesmo é de esbanjar extravagância, adoro obter esse cargo de imprevísivel no vocabulário da minha melhor amiga, adoro saber que ela vai fazer a questão de sempre me surpreender por que existem chances de eu não gostar de algumas surpresas, mas além de adorar esse cargo, amo ser definida como a garota do ser ou não ser, amo ser a garota do Tudo Ou Nada.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Fogos de artifício


Eu tinha uma mania incontrolável de querer mudar constantemente, como uma borboleta em metamorfoses frequentes, era um absurdo pois quem pagava por todas essas mudanças eram as pessoas ao meu redor, aquela que senta do meu lado no ônibus ou até mesmo aquela pessoa que tem um livro com a capa rasgada.

Pagam também os companheiros de anos e os parceiros de semanas, a consciência e o coração são os que mais pagam, mais influenciam e destrõem conforme o tempo, a razão termina, o sentimento evolui e as mudanças simplesmente corrõem todo o meu peito. Fechei meus olhos e sentei no piso frio, arrepiei, corei e passei a mão por entre meus braços como se fosse um abraço aconchegante, na verdade, um abraço merecedor, poucas pessoas abraçam-se e agradecem a si mesmas por quem são e por o que fazem. Grande merecedora sou eu do meu próprio abraço, dos meus próprios pensamentos e de mim mesma, às vezes me sinto completamente vazia e a única coisa que não me abandona sou eu mesma, desfrutadora de almas errantes. Suguei os pensamentos de quem estava passando na rua, tirei força das plantas que eu estavam ao meu lado e do azulejo em que estava tirei apenas o frio, fiquei fria por um tempo, emocionalmente FRIA.

Tirei do vidro o egoísmo de não querer espelhar ninguém, tirei dos imãs a capacidade de atrair os opostos, roubei das fechaduras o poder de só aceitar uma única chave, de baús grandes espaços para guardar momentos, de lápis de cores tirei a capacidade de nunca perder o tom, das flores tirei a capacidade de nunca perder o aroma, das histórias a necessidade de nunca virar um clichê.

O vento era uma necessidade de me manter arrepiada, manter-me arrepiada significava simplesmente me manter pensante na vida, ter a capacidade de olhar pras estrelas e saber que mesmo tão minusculas elas podem destruir, encarar a lua como se na noite ela fosse minha única esperança, encarar o escuro nunca havia sido tão bom, deixei cair uma lágrima por entre minha bochechas um pouco coradas, meus ouvidos estavam gelados e minhas pernas balançavam, malditas crises de identidade.

Segurei firme meu travesseiro, peguei um lápis, uma folha de caderno e desenhei uma nota de música, aquilo não precisava significar nada pra mim, mas já dizia o bastante, era o necessário, eram luzes que radiavam minha noite, eu era minha própria luz, eu era fogos de artificio que explodiam e brilhavam ao mesmo tempo, iam ao topo mas logo depois estavam no chão, duravam pouco, mas duravam o bastante para fazer com que a noite brilhasse um pouco mais.


quarta-feira, 10 de novembro de 2010

No final do arco-íris

Juntei todos os mil cacos que o meu coração havia sido quebrado, colei pedacinho por pedacinho com super cola e esperei o tempo necessário para secar, estava um coração quase perfeito, se não tivesse tido grandes sequelas, grande parte por culpa minha e outra por culpa do amor, quando se ama a entrega é muito maior e você passa a se preocupar com coisas bobas, coisas inúteis uma vez que você tenha provado da paixão.

O amor te consome mais energia do que 24 horas por dia de academia, o amor te cobra gratidão, confiança, o amor te cobra sinceridade, paciência e muita admiração, o amor envolve culpa, envolve acreditar, amor requer tempo, pede calma e avança pela alma sem te dar segundos para tentar conter. Chega e destrói, coloca um sorriso no teu rosto e logo depois inunda-te de lágrimas, explode de adrenalina e depois dá um nó de tristeza, amor é como quando uma caneta risca em um papel, amor são metáforas e antíteses que complementam um paradoxo quase perfeito.

Ah, se não fosse pelo quase... casais quase estariam juntos, pessoas quase confiariam, relacionamentos quase dariam certo, lágrimas quase acabariam, mas não dão, não acabam, não confiam. Por isso você aprende a lutar, você usa armas que aprendeu a construir com o tempo, você usa o tempo para pensar em situações futuras, você usa situações futuras para decidir a sua vida, você usa a sua vida para erros, você não deveria usar os erros, mas usa e as armas quebram.

Tudo como em um ciclo ou uma cadeia alimentar, predatismo, canibalismo... o amor devora seu coração, o que é bom, mesmo que com sentimentos tão vulneráveis. Coloque um ferro quente em cima de um saco plástico, as coisas desendarão na hora, no mesmo momento o cheiro ficará horrivel e você ficará assustada, as coisas podem até pegar fogo, mas o mais forte deles continuará intacto, pronto para queimar outro plástico e é assim com o amor, o mais forte e preparado vence e pode te derrotar, caso contrário vença o mais preparado com a força dos teus sentimentos que por um lado podem ser pequenos, mas por outro são tão admiráveis.

Acredite na sua capacidade de amar e dê tudo de você sempre, esteja pronta para sofrer a qualquer momento, chore muito, tenha calafrios no pescoço e morra de medo de perder quem você ama, seja sincero, faça cara feia, não guarde sentimentos muito complexos dentro de você, coisas e pessoas muito dificeis na verdade são as montanhas que mais valem a pena.

Invista, mas invista apenas em você, por que no final do arco-íris o pote dourado é todo seu.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Outra pergunta com a mesma resposta


Olhei-o da cabeça aos pés, tudo aquilo me puxou como um imã, eu poderia estar com os olhos vendados e com o coração fechado como de costuma, mas aquilo continuaria me atraindo de uma forma incontrolável. A música não tinha uma batida que combinasse, mas ele era do tipo muito desejável para qualquer garota normal.
Sorri nervoso, encarei-o aflitamente, seriamente, vierei as costas e caminhei! Voltei, repetindo os mesmo gestos sem sucesso aparente.

Desisti. Aquele garoto não deveria ter efeito algum sobre mim, nem sequer aquele sorriso. Senti raiva e dancei. Senti o clima mais pesado, o vento mais forte e ele, ELE estava mais perto, parecia que eu nunca havia conversado com qualquer garoto antes, eu estava boba, ele só poderia estar brincando.

Cada palavra dele chegava à minha razão sem sentido, eu não conseguia desejar nada dele a não ser um beijo, até então não custava nada, mas isso desobedecia qualquer regra de um bom relacionamento. Perdi pensamentos e coloquei fora sentimentos que me causavam ilusão, de qualquer forma naquele momento e o resto de todos os outros momentos eu queria ser dele, ser pra ele.

Tudo pulsou, corou, vibrou, arrpiou, áureas coloridas, sonhos, realidades, vivência.. CONVIVÊNCIA.

Houve um começo de algo que poderia ter acabado naquela hora, mas perdurou, ao menos para mim. Minhas esperanças nunca foram minhas alternativas prediletas, isso não significava nada mesmo, mas eu precisava encontrar o porque aquilo tinha uma intensidade incontável. De um lado eu tinha raiva e do outro eu suspirava com os olhos brilhando.

Maldito garoto perfeito! Malditas meninas bonitas! Maldito tempo chuvoso, sentimentos sem por quê, maldita necessidade dele!
A única coisa que eu poderia concordar era sobre minha vontade de me entregar novamente sem pensar nas supostas consequências depois. Abracei-o, senti que meu medo de que isso terminasse era muito maior, eu já estava certa do que eu queria, eu também estava confiante de que eu poderia gostar dele com todas as minhas forças e o resto não importaria.

E aquele havia sido o último suspiro! Oúltimo suspiro sem explicação, o último suspiro sem sentimento.
Eu tinha novas razões, isso já era o bastante para ter certeza de que supostos começos poderiam dar certo.